Desvendando a realidade

É considerado um senso comum a necessidade de “vivermos na realidade”. Considera-se que o afastamento da realidade causa danos e consequentes sofrimentos para nossa vida. Uma expressão comum que utilizamos para descrever uma pessoa que está perdida e cometendo erros consecutivos é afirmar que: “Ele perdeu a noção da realidade!”

noção: substantivo feminino 1. conhecimento imediato, intuitivo, de algo; ideia, consciência.

Conhecimento imediato, intuitivo… Logo podemos entender que ver a realidade não é uma ação puramente racional, pois a ideia de intuição não exige a presença de um pensamento para o acesso a um conhecimento.

O significado da palavra desvendar é literalmente tirar a venda e a venda, neste caso, só pode estar nos próprios olhos. Não creio que aqui falamos somente dos olhos físicos e ainda dos olhos mentais, aqui falamos de uma capacidade que ultrapassa a nossa incrível capacidade mental, pois, apesar de incrível, ela é limitada. Nossa mente é um equipamento com capacidade de armazenamento e processamento limitados.

A realidade em si é de uma complexidade infinita. Existem tantos dados, tantas informações condensadas num único segundo da realidade que nosso equipamento físico de sondagem (5 sentidos) não é capaz de registrar uma ínfima parcela desta explosão de informações e estímulos e se entrarmos no terreno das causas e efeitos tudo isso se amplia em complexidades ainda muito mais vastas.

Portanto, para vermos a realidade, precisamos de uma ferramenta que ultrapasse nosso poder mental, embora este, desde a nossa formação, resultado de apenas duas células, esteja sempre em franco aperfeiçoamento. Nosso corpo não é capaz de “sentir” toda a realidade e nossa mente não é capaz de “entender” toda a realidade.

Surgimos com alguma bagagem genética, fruto do aperfeiçoamento físico de milhões de anos (segundo os cientistas) e vamos, segundo a segundo, recebendo e processando estímulos e aperfeiçoando dia a dia nossa capacidade de perceber e entender a realidade. É um processo incrível e quase mágico… mas não é suficiente!

Não é suficiente, pois sempre acabamos nos deparando com barreiras. Para não enlouquecer aceitamos nossa limitação e aprendemos a conviver com as barreiras, mesmo que de tempos em tempos nós as empurremos mais para fora, abarcando mais da realidade.

No entanto, com alguma frequência, há momentos em que, por uma fração mínima de tempo, temos este contato direto com a realidade. Por um segundo vemos a realidade. E esta visão é acalentadora. Ela nos apazigua e nos nutre, também nos fortalece e nos estimula para novas buscas embora quase sempre não consigamos racionalizá-la.

Este pensamento que acabo de expressar é belo e é bom, mas preciso voltar um pouco e falar sobre a quase totalidade do tempo em que não somos capazes de ver a realidade em sua totalidade. Em quase toda a duração de nossa vida biológica somos capazes de conviver somente com um espectro da realidade. Acredito que por isso, principalmente, certas correntes religiosas e filosóficas do oriente afirmam que o mundo é “maya”, o mundo é ilusão.

Aqui fica a minha impressão sobre o “maya”: é ilusão não porque seja irreal, é ilusão porque só somos capazes de enxergá-lo através da nossa capacidade muito limitada que precisa moldar filtros internos próprios para ver, aceitar e interagir com a realidade. Nossos olhos físicos e mentais dependem das crenças que construímos durante nossa vida, crenças baseadas nos materiais e informações que recebemos do mundo através da natureza e de outras pessoas e suas crenças, também adquiridas.

Num exemplo muito raso posso afirmar que a resposta imediata que uma pessoa expressa sobre um determinado objeto ou ideia pode me falar de seus filtros da realidade. Mostro para ela uma faca e, dependendo da sua formação, crenças e momento de vida, ela pode afirmar que aquilo é prioritariamente uma ferramenta ou pode afirmar que é uma arma.

“Na esteira da Segunda Guerra Mundial e do advento da bomba atômica, Albert Einstein formulou a seguinte questão: “O universo é um lugar amistoso?”

“Esta”, declarou o cientista, “é a primeira e a mais fundamental pergunta que todas as pessoas devem responder a si mesmas.”

Einstein raciocinou que, se considerarmos o universo hostil, naturalmente trataremos os outros como inimigos.

Se considerarmos o universo amistoso, no entanto, a tendência será tratar mais os outros como parceiros potenciais.

Em outras palavras, a resposta que damos a essa indagação essencial se autorrealiza.” William Ury

“A candeia do corpo é o olho. Se teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso. Se o teu olho for iníquo, todo o teu corpo será sombrio.” Mateus 5:22

Que tipo de luz você tem oferecido? Como você está enxergando o mundo? Onde você tem focado seu olhar?

Se focarmos principalmente nos aspectos hostis da realidade, poderemos e vamos nos preparar para uma vida de hostilidades e há grande chance de que seja isso que encontremos pelo caminho. Se focarmos nos aspectos amistosos…

É certo que não priorizamos sempre um ou outro. Há fases em nossa vida que usamos lentes mais coloridas e outras que nos rendemos as mais cinzentas. Mas a proporção majoritária do uso de uma ou outra é que vai determinar o nosso nível de contentamento e “felicidade”. Por isso encontramos pessoas felizes mesmo em meio a escassez e infortúnios e pessoas deprimidas mesmo em meio a abundância e riquezas.

Você tem treinado seu olho (e seu coração) para enxergar qual espectro da realidade?

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